Milton Santos considera a globalização como uma das bases para o enraizamento do sistema capitalista nas sociedades atuais, porém este fenômeno não está acessível a todos, ou seja, a maior parte da população está desvinculada e desprotegida da minoria privilegiada por este processo, por isto esta é considerada pelo autor como um fenômeno perverso.
No texto o autor coloca que há uma participação conjunta entre o dinheiro e a informação, intimamente relacionados, influenciando no caráter das pessoas. Com isto as pessoas sentem-se sem amparo e voltam a praticar maneiras que há algum tempo atrás eram consideradas imorais e incabíveis.
A globalização usa a informação de forma a contemplar os seus ideais; em nosso tempo, as novas condições tecnológicas têm a possibilidade de permitir o bem-estar de todos os habitantes do planeta, porém, a informação é usada por uma seleta porção de indivíduos que usam a tecnologia da informação como ferramenta de dominação e perpetuação de poder, impedindo que as pessoas tenham acesso a informação de forma ideal e completa, as impedindo de adquirir conhecimentos para os amparar neste processo perverso de exclusão social, pois o que é transmitido à maioria da humanidade é forjado segundo o interesse dessa minoria. O trabalho da mídia, dentro deste processo é confundir, ao invés de elucidar, isto é perverso, pois presenciamos um mundo onde a informação é um artifício fundamental imprescindível. Hoje a informação tem um poder muito grande de penetrar em todas as atividades humanas, e esta por sua vez se apresenta com duas caras, tentando nos convencer, ou seja, falsificam-se os fatos e nos tenta convencer daquilo que nos dá, e não daquilo que realmente ocorreu, isto é, nos traz a interpretação e não a noticia.
Segundo Santos, um dos consectários do fenômeno global que ocupa nosso planeta é o desmaio do Estado, permitindo a liberdade de produzir, de consumo, e isto só aumenta a desigualdade entre os indivíduos. Nessas condições o financeiro ganharia uma grande autonomia. Um dos motores da globalização é a competitividade, pois comanda nossas formas de ação. Ela extingue qualquer forma de piedade. Não é mais a antiga concorrência, concorrer e competir não são a mesma coisa, competitividade “é um novo nome para a guerra” e tem a guerra como norma, tem-se que a todo custo vencer o outro, seja como e com que armas forem, esta prática provoca esquecimento dos valores éticos e morais e se torna um convite a violência. Ela faz com que os indivíduos se tornem arrebatadores, impetuosos, de forma a considerar o outro como coisa e não mais como pessoa. A competitividade e o consumismo levam ao desfalecimento intelectual da pessoa, de forma a não existir mais a figura do cidadão e sim a do consumidor. Não existe mais a discussão acerca do que é errado ou não, faz-se aquilo que se acha conveniente, que lhe trará vantagens, desta forma os indivíduos e a sociedade em geral dão adeus à generosidade, à solidariedade e à emoção, contemplando a competitividade. Criam-se, desta maneira, novos “valores”, uma nova “ética” corrupta.
A globalização é perversa, pois trouxe à sociedade vários medos, medo do desemprego, medo da fome, medo da violência, medo do futuro, medo do próximo, medo da solidão e até mesmo medo da vida. Esta perversidade se manifesta com muita força, pois está vinculada ao sistema, é uma perversidade sistêmica, o sistema capitalista é uma fabrica de perversidade, pois os problemas sociais deixam de ser fatos isolados e passam a ser generalizados e permanente, já considerado como algo “natural” e aparecem como algo banal e nem sequer os indivíduos lembram que estes problemas são produzidos politicamente e por interesses do capital. A ciência produz apenas aquilo que interessa ao mercado e não a humanidade, priorizando o aprimoramento técnico e não o moral.
Desta forma estamos inseridos em um sistema social cruel, de exclusão social, baseado em valores e regras de mercado, que produz de produtos de valor monetário e em contrapartida destrói os valores humanos e as relações humanas baseadas no companheirismo e na benevolência. E ainda, ultrapassa os limites geográficos e cria riquezas mas não elimina a pobreza e a fome de milhões de pessoas que sobrevivem a margem da sociedade. Mas ainda temos que crer que os Estados ainda enxergarão que estamos em um rumo equivocado e que vão querer mudar o rumo das coisas.
Texto elaborado com base na obra de Milton Santos (Por uma outra Globalização)
Texto elaborado com base na obra de Milton Santos (Por uma outra Globalização)
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